segunda-feira, 10 de agosto de 2009
A Teu, ao meu, ao nosso gosto!
Está é uma série bastante interessante para quem ainda se entusiasma com pessoas debatendo questões importantes (que atormentam nossas almas, como diria um amigo!) e tratando tudo com inteligência, sarcasmo e diversão. A série é apresentada pelo neurologista, dramaturgo (e também ateu!) Jonathan Miller. Ele entrevistou seis expoentes de diversos campos. Os nomes mais conhecidos são do autor Richard Dawkins e do dramaturgo Arthur Miller. Mas, todos debatem suas visões pessoais e oferecem análises esclarecedoras do ateísmo. Tem umas entrevistas que são realmente enfadonhas (eu achei a do físico, por exemplo). Mas, eu adorei muito a primeira, com o filósofo, o Colin McGinn. Eles abordam especialmente na maior parte dos debates: a questão da religião nas sociedades, o repúdio que os religiosos sentem em relação aos ateus e a necessidade das pessoas acreditarem em uma divindade. O meu parâmetro para avaliar positivamente a série foi, também, ter assistido com pessoas religiosas, que ficaram admiradas da forma com que o tema foi tratado. Faço outra recomendação para àqueles que curtem assistir os bons documentários produzidos pela BBC.
domingo, 9 de agosto de 2009
Eu poderia casar com aquela bunda...
Graças à presteza da velox, eu pude rapidamente resolver o problema da conexão e restabelecer minha internet no tempo recorde de 3 semanas(sic). No intuito de aproveitar melhor esse tempo, procurei indicações de todo tipo: leitura, música, bares, filmes... Faz tempo que haviam me falado do badalado O Cheiro do Ralo, e depois de uma nova investida para que eu assistisse, por fim, resolvi ir catar o tal filme na locadora. Eu assisti ótimos filmes que trataram a questão das psicoses. Forrest Gump, é um bom exemplo. Feito no Brasil, assisti o acurado e bem produzido Estamira, e fiquei realmente impressionado. Mas, nenhum outro filme tratou com tanto requinte e clareza (até mesmo didática!) a psicose como O Cheiro do Ralo.
Lourenço é o dono de um antiquário que compra quase todo o tipo de artigos que as pessoas queiram vender. Estas, em comum, antes de se desfazerem de seus objetos, procuram narrar à Lourenço toda a história de seus preciosos itens. Lourenço é indiferente ao valor afetivo que as pessoas atribuem a seus estimados objetos. E o fato das pessoas tentarem lhe vender aquilo que tanto apreciam torna a situação ainda mais dolorosa. Lourenço nunca fica convencido que exista mesmo o valor que as pessoas anunciam. Afinal, se estimam tanto, por quê lhe vendem? "É que estou mesmo precisando...". A expressão de desprezo do anti-herói é cômica e trágica. Lourenço não suporta a atitude corruptível das pessoas, e isso o torna extremamente interessante e complexo. O espectador sempre oscila suas opiniões sobre as atitudes ácidas de Lourenço para com às pessoas e a situação dolorosa que estão passando. Por outro lado, assim como as pessoas que despreza, ele próprio é capaz de atribuir um valor superestimado a certos objetos. Vemos Lourenço comprando um olho de vidro e a prótese de uma perna por uma quantia bastante alta. Portanto, ou Lourenço trata objetos como simples objetos, ou trata os objetos lhes conferindo um valor afetivo ainda mais significativo - do que, por exemplo, às pessoas a quem despreza. Essa discrepância é o que sinaliza a própria estrutura psicótica do personagem. Ao adotar a crença cega (rs) que o olho de vidro comprado de um veterano de guerra é o olho de seu pai, entendemos que o olho - enquanto parte de um corpo - substitui a totalidade desse corpo (corpo de seu pai). O mesmo acontece com a prótese da perna. A idéia de Lourenço é tentar construir o corpo de seu pai e dar-lhe vida - um pai Frankenstein -, e ao confiar na possibilidade de concretizar seu desejo no plano do real (passar ao ato) se reconhece que a certeza de poder reunir novamente as partes do corpo de seu pai, para pode viver junto a ele, é sintoma claro da ruptura característica da loucura. O olho e a perna não são mais partes de um corpo, como foram um dia. Lourenço admite que tanto o olho quanto a perna são o corpo de seu pai. Lourenço se encontra alienado num mundo onde existe apenas o estado Ser(pai)-um olho/perna; parece-lhe impossível voltar a encontrar um mundo do Ter, onde uma pessoa pudesse ter perna/olho, sem ser ela mesma a própria perna e olho. De todo modo, quando não revela interesse pelo que está sendo vendido, Lourenço efetua um exercício de subjugar as pessoas desvalorizando o que lhe oferecem para vender, ao passo que exercita seu domínio sobre seus clientes explorando suas necessidades financeiras.
A ligação que Lourenço faz entre a bunda e o cheiro do ralo é a mais interessante do filme - e ele próprio explica! Daria para tratar muitas outras questões aqui porém, teria que escrever um post ainda maior. Fica, então, aqui registrado que a indicação do filme valeu muito à pena e a minha própria recomendação para todos assistirem um ótimo filme, para quem se interessar pelo tema e também por comédias ácidas.
Lourenço é o dono de um antiquário que compra quase todo o tipo de artigos que as pessoas queiram vender. Estas, em comum, antes de se desfazerem de seus objetos, procuram narrar à Lourenço toda a história de seus preciosos itens. Lourenço é indiferente ao valor afetivo que as pessoas atribuem a seus estimados objetos. E o fato das pessoas tentarem lhe vender aquilo que tanto apreciam torna a situação ainda mais dolorosa. Lourenço nunca fica convencido que exista mesmo o valor que as pessoas anunciam. Afinal, se estimam tanto, por quê lhe vendem? "É que estou mesmo precisando...". A expressão de desprezo do anti-herói é cômica e trágica. Lourenço não suporta a atitude corruptível das pessoas, e isso o torna extremamente interessante e complexo. O espectador sempre oscila suas opiniões sobre as atitudes ácidas de Lourenço para com às pessoas e a situação dolorosa que estão passando. Por outro lado, assim como as pessoas que despreza, ele próprio é capaz de atribuir um valor superestimado a certos objetos. Vemos Lourenço comprando um olho de vidro e a prótese de uma perna por uma quantia bastante alta. Portanto, ou Lourenço trata objetos como simples objetos, ou trata os objetos lhes conferindo um valor afetivo ainda mais significativo - do que, por exemplo, às pessoas a quem despreza. Essa discrepância é o que sinaliza a própria estrutura psicótica do personagem. Ao adotar a crença cega (rs) que o olho de vidro comprado de um veterano de guerra é o olho de seu pai, entendemos que o olho - enquanto parte de um corpo - substitui a totalidade desse corpo (corpo de seu pai). O mesmo acontece com a prótese da perna. A idéia de Lourenço é tentar construir o corpo de seu pai e dar-lhe vida - um pai Frankenstein -, e ao confiar na possibilidade de concretizar seu desejo no plano do real (passar ao ato) se reconhece que a certeza de poder reunir novamente as partes do corpo de seu pai, para pode viver junto a ele, é sintoma claro da ruptura característica da loucura. O olho e a perna não são mais partes de um corpo, como foram um dia. Lourenço admite que tanto o olho quanto a perna são o corpo de seu pai. Lourenço se encontra alienado num mundo onde existe apenas o estado Ser(pai)-um olho/perna; parece-lhe impossível voltar a encontrar um mundo do Ter, onde uma pessoa pudesse ter perna/olho, sem ser ela mesma a própria perna e olho. De todo modo, quando não revela interesse pelo que está sendo vendido, Lourenço efetua um exercício de subjugar as pessoas desvalorizando o que lhe oferecem para vender, ao passo que exercita seu domínio sobre seus clientes explorando suas necessidades financeiras.
A ligação que Lourenço faz entre a bunda e o cheiro do ralo é a mais interessante do filme - e ele próprio explica! Daria para tratar muitas outras questões aqui porém, teria que escrever um post ainda maior. Fica, então, aqui registrado que a indicação do filme valeu muito à pena e a minha própria recomendação para todos assistirem um ótimo filme, para quem se interessar pelo tema e também por comédias ácidas.
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