quinta-feira, 22 de julho de 2010

Je T'aime Mon Amour

Falando ainda de amor - sucesso de dez entre dez corações quebrados, partidos ou desesperançados -, me propus a questionar o que as pessoas pensam, falam e sonham quando falam sobre esse assunto. Tenho escutado constantemente certas queixas que não avançam em direção a uma solução, quanto a procura incessante por amar e ser amado, nesses nossos loucos tempos. As pessoas tem tratado a questão do amor sob a ótica de um conceito filosófico para se viver bem, ou desvendar o mundo íntimo e oculto de homens e mulheres (o que esses corações escondem e não contam?), a fim de se extrair uma verdade a partir disso... Muita tolice, em minha opinião. Me parece que o amor que as pessoas procuram não existe mais nesse mundo moderno em que vivemos. Está eternizado em livros ou em filmes que reciclam obras famosas que versam sobre o amor. Mas, faz parte do passado. Existe amor, sim! Mas, qual? Averiguemos...

Tem mulheres que os homens lhe amam a beleza, e a querem tomar para dela se aproveitar, a fim de obter somente uma satisfação sexual. E as mulheres gostam exatamente daquilo que os homens gostam nela. Tem homens que as mulheres lhe amam pelo poder que lhes foi investido através de seus cobiçados cargos de empresa ou de um grupo social, e que fazem questão de exaltar-se por intermédio de inúmeros imóveis luxuosos e de carros e iates de seis ou sete cifras. E os homens gostam exatamente daquilo que as mulheres gostam nele. Amam em si o que os outros amam nele. E quando o outro não ama mais o que ele próprio amava nele? O que resta desse(a) pobre coitado(a)? O que sobrou de si para ser amado por alguém? Nada. Tudo o que pensou ser... não passou de uma mentira inventada.

O amor não é invasivo, como algo do tipo, "eu te dou o que você gosta e você me dá aquilo que gosto". Não é um tipo de escambo. Nem pode ser, por que a mercadoria a ser trocada é uma ilusão. Você passa a vida pensando querer uma coisa e quando a têm vê que nem mesmo dela precisa. Talvez, até nem goste! Descobre que ela (coisa/pessoa/vontade) não é tão boa quanto você pensava ser. E se pega perguntando: "que gosto terá todas aquelas coisas que não provei porque pareciam ruins?". Se dá conta de que nem ao menos sabe do que realmente gosta. Esteve toda a vida vendada para as milhares de oportunidades de experimentar outras coisas e descobrir o que encantava, de verdade, você mas, estava concentrada demais nas idéias de que precisava de uma pessoa assim, uma pessoa assado...

Será que é preciso saber quem você é mesmo, para assim poder encontrar o amor? Penso que não. De fato, penso o contrário. Onde você não é - mas, está! -, é que reside o amor que vale à pena encontrar. Ou o amor te encontra (questão filosófica), como queira... Tudo que você faz sem saber o propósito: pode vir a se tornar um amor. Existem coisas tolas, ou mesmo das quais você próprio se envergonha, que são especiais para alguém... e você nem sabe! E são essas pequenas coisas, que não acontecem o tempo todo - só para quem passa certos momentos da vida ao seu lado -, que realmente traduzem o sentido que essa palavra escapa dizer. Esse é o que eu chamo de "verdadeiro amor". É o amor da companhia, o amor do encontro. É o amor onde você precisa estar presente para ver acontecer pelo outro (e não, no outro), para num só depois te afetar. Aquela banalidade tão frívola e tão inesperada, te captura. Ela nem foi para você. Nem foi para ninguém! Se quer mesmo saber... Mas, tocou você de um modo seu, único, particular. É isso o que eu chamo de amor. São esses raros momentos em que você - ou alguém - revela o que não era para ser admirado, o que não era para ser visto ou mesmo contado, mas que aconteceu mesmo assim. Não podendo mais ser esquecido.

Esse amor é de alguém de que não faz trocas. Experimenta. Em verdade, se arrisca! É um amor que não faz relação. Ele não analisa. Portanto, saber que gosta de uma coisa não exclui gostar de outra. Ele só sabe que gosta, pois foi afetado pelo imprevisto. Não estava preparado: só gostou. Não tinha um plano principal para adaptar os acontecimentos nele. Ele apenas sabe que gosta. Ponto! Está receptivo ao mundo em volta e, assim, pode encontrar o que e quem amar. Não precisa procurar pois, não há nada lhe faltando para ser completado. O que lhe falta é apenas para marcar um espaço de invenção, um vazio que vai buscar novas experiências. Assim sendo, sem modelo para orientar-lhe, não está refém de ter que gostar disso ou daquilo... Gosta no dia e não mais no outro, muda de opinião, pode transitar.

Isso acontece mesmo, sem saber. É um amor que se renova. Ele não insiste em algo que pensa querer. Apóia o inesperado pois, para existir algo para amar, é preciso faltar. É como um menino arteiro que atira uma pedra no lago. Essa pedra que toca a água e levanta voo para, depois, tocar a água de novo: é o verdadeiro amor. São como duas pessoas que ora só amam a si, ora amam algo no outro, ora a si, ora no outro. Acontecendo isso repetidas vezes durante a vida. E enquanto falta, se inventa. Mas se inventa o que amar, e não a quem amar! O surpreendente ato de amar se encontra no fato de amar uma coisa que mais ninguém sente precisar amar além de você. O amor que todos querem, vendidos em sonhos pela tv, ou em balcões de compra, esse não pode ser chamado de amor, senão tomado por uma outra coisa. Seu verdadeiro nome: puro delírio.

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