quinta-feira, 2 de abril de 2009

A Garota que brigou com seu Coração (Contos)

Play. Ela apertou o botão do som de seu quarto. Escolheu o melhor de sua coleção de discos. Aquele era um dia perfeito para ouvir seus preferidos: Damien Rice, Costello e também o veho Dylan. Enquanto a música tocava no seu quarto, ela ia para janela fechar a cortina. O tempo em Salvador, a cidade do axé e do sol o ano inteiro, estava cinzento e embaixo de muita chuva. Enquanto acompanhava os pingos d`água escorrendo pela sua janela, ela se deu conta que o tempo só não estava pior lá fora do que dentro dela. Fechou a cortina enquanto fechava seus próprios olhos. Procurou pelo seu travesseiro e afundou seu rosto inteiro dentro dele. Só conseguia pensar como ele tinha fodido com tudo. Tentava achar uma explicação para se convencer de que tudo aquilo poderia ter sido evitado. Não podia. Ela, então, fez o que qualquer pessoa sensata faria. Ela amaldiçoou o mundo. Bem no momento em que o sábio Costello cantava "Alison, I know this world is killin you". O idiota partiu o coração dela de verdade. Ele não foi primeiro, pois muitos outros haviam feito o mesmo antes dele. A pior coisa é que ela sabia que a sensação de vazio iria voltar outra vez. Esse buraco só aumentava cada vez que ela se dava uma nova chance. Ela virou seu rosto para buscar mais ar e deu de cara com as fotografias em sua parede. Todos os lugares, todos os momentos, todas as palavras ditas na hora certa. Ela não iria viver mais nada daquilo com ele. Ela queria ficar mais tempo juntos, mas estava difícil deixar de se importar com aquelas palavras duras sobre ela. O telefone tocava sem parar, todas as suas amigas estavam ligando preocupadas. Elas queriam ajudar, mas não podiam. O velho Dylan estava arranhando seus dedos nas cordas do violão com as notas mais tristes e sua voz melancólica. Ela estaria sozinha de agora em diante. Nada de mãos dadas pelas ruas de cidade, nem mais sua cabeça sobre o ombro dele no religioso cinema de domingo. Toda aquela merda clichê que quem está sozinho desdenha era seu paraíso aqui na terra. Nada de encher a cara, enquanto sentia as mãos em suas coxas e nem daquele sexo no chão que terminava na cama, que a fazia gozar de tremer as pernas. Não tinha mais nada que ela pudesse fazer. Ela só pensava em retroceder sua vida para saber onde foi que tudo começou se perder. Não dava mais para corrigir. Estava na hora de fazer aquilo: tirar as fotos da parede, guardar os bilhetes deixados escondidos, esconder os malditos bichos de pelúcia - menos aquele do dia dos namorados. Esse poderia ficar mais um pouquinho antes de ir. Ela sabia que essa dor nunca iria passar - ainda seria aguda por mais uns dias. Ela só não queria admitir a triste verdade: olhar a porra do mundo sem o colorido que pintou. Mas, terminou. O idiota partiu o coração da garota.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom!!O que serve de consolo, é que os términos são tão iguais e que não se pode fazer muito além de deixar o tempo se encarregar de varrer ou juntar os pedaços do coração partido.
Que saibamos mais ainda...NÃO É O FIM DO MUNDO, embora na hora nada nem ninguém nos convencerá do contrário...VOCÊ NÃO MORRERÁ...E SUA CAPACIDADE DE AMAR É MAIOR QUE ISSO...
Belo presente esse texto